Por Nuno Marçal
A
história das Bibliotecas Itinerantes em Portugal está repleta de símbolos
marcantes que influenciaram e muito a vida daqueles que usufruíram dos seus
serviços.
Os
primeiros serviços itinerantes de biblioteca foram criados na primeira metade
do séc. XX (1914) e eram apenas malas que percorriam clubes, associações e
corporações carregadas com um pequeno acervo documental. Durante a ditadura
houve também um serviço de Biblioteca Itinerante (Biblioteca Ambulante de
Cultura Popular) que teve uma duração efémera (1945/1949). Era constituído por
sete veículos, que disponibilizavam obras da Secretaria de Propaganda Nacional.
Em
1953, António Branquinho da Fonseca escritor e Bibliotecário criou em Cascais a
Biblioteca Móvel que percorria toda a linha de costa e praias da Linha do
Estoril, levando livros e cultura aos veraneantes. Este serviço iria chamar a
atenção da Fundação Calouste Gulbenkian que anos mais tarde convidou Branquinho
da Fonseca a idealizar e concretizar aquele ícone simbólico das Bibliotecas
Itinerantes em Portugal.
Em
1958, Branquinho da Fonseca criou, através da Fundação Calouste Gulbenkian,
aquele que ainda hoje pode ser considerado uma das maiores estruturas de
Leitura Pública idealizadas e realizadas em Portugal e uma das primeiras redes
de leitura pública do mundo.
As
Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian foram, ao longo destes
anos, importantes faróis de cultura e educação, em épocas obscuras onde o
analfabetismo era promovido por um Estado controlador de actos e pensamentos e
pouco interessado na educação do seu povo.
Este
serviço itinerante de leitura, afectos e troca de informação foi percorrendo os
recantos mais escondidos e inacessíveis de Portugal, ainda hoje permanecem
vestígios da sua influencia na vida de milhares e milhares de antigos
utilizadores/visitantes/Amigos que recordam com a saudade a sua passagem e para
o qual têm uma divida eterna de gratidão pois graças a este serviço despertaram
pela primeira vez com o Livro e criaram hábitos de leitura, que sem duvida os
transformaram em melhores e mais esclarecidos cidadãos.
Em
2002, a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu terminar este valoroso projecto de
leitura pública entregando a responsabilidade da sua continuação aos municípios
onde estavam instalados os serviços itinerante e fixos das bibliotecas. Os
acervos foram integrados nas bibliotecas municipais ou simplesmente mudaram de
designação. Em relação aos veículos, alguns municípios respeitaram a nobreza do
projecto e mantiveram o serviço até aos dias de hoje, nuns casos mantendo até
ao limite a sua durabilidade apostando na sua fiabilidade mecânica e
estrutural.
Alguns municípios, interpretando correctamente a funcionalidade e a afectuosa ligação do serviço itinerante de biblioteca com as populações, nunca deixaram morrer este serviço, ao invés, apostaram na sua modernização e implementação.
Ao
longo destes quase 9 anos de andanças por terras e gentes de Proença-a-Nova, a
Bibliomóvel e os seus recursos humanos, bibliográficos e sentimentais foram-se
entranhando na paisagem e no quotidiano dos seus
utilizadores/visitantes/Amigos, apostando e baseando os seus serviços em
valores como a Proximidade, a Periodicidade, a Cumplicidade e a Amizade, que
constituem a imagem de marca não só da Bibliomóvel de Proença-a-Nova, mas de
todos os serviços itinerantes de biblioteca.
Esta
busca incessante de novos utilizadores fora das ameias, por vezes demasiado
altas das bibliotecas comuns, são um desafio cada vez maior numa sociedade em
constante movimento e com utilizadores cada vez mais voláteis, importa não
esquecer em épocas de crise, precisamente aqueles que estão ou foram ficando
para trás no acesso a informação e na promoção e divulgação do Livro e da
Leitura.
As
Bibliotecas Itinerantes jogaram um importante papel, no esbater das
desigualdades de acesso ao Livro e a Leitura, fruto do isolamento social e
geográfico de algumas populações. Hoje, e com certeza no futuro, irão continuar
o seu importante papel de aproximação e disponibilização de recursos
bibliográficos, humanos e sentimentais, indo ao encontro dos seus utilizadores,
visitantes e Amigos.
Excelente síntese. Só um pequeno reparo relativamente ao papel de Branquinho da Fonseca em Cascais: onde se lê" toda a linha de costa e praias da Linha do Estoril, levando livros e cultura aos veraneantes. " a última preocupação de BF seria, com toda a certeza, os veraneantes ... e não era toda a linha da costa: o importante era mesmo o interior do concelho. Parabéns pelo seu trabalho em torno da divulgação do livro e da leitura.
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