quarta-feira, 3 de junho de 2015

1001 ANDANÇAS DAS BIBLIOTECAS ITINERANTES POR ESTRADAS, TERRAS E GENTES DE PORTUGAL


Por Nuno Marçal

A história das Bibliotecas Itinerantes em Portugal está repleta de símbolos marcantes que influenciaram e muito a vida daqueles que usufruíram dos seus serviços.

 
Os primeiros serviços itinerantes de biblioteca foram criados na primeira metade do séc. XX (1914) e eram apenas malas que percorriam clubes, associações e corporações carregadas com um pequeno acervo documental. Durante a ditadura houve também um serviço de Biblioteca Itinerante (Biblioteca Ambulante de Cultura Popular) que teve uma duração efémera (1945/1949). Era constituído por sete veículos, que disponibilizavam obras da Secretaria de Propaganda Nacional.

Em 1953, António Branquinho da Fonseca escritor e Bibliotecário criou em Cascais a Biblioteca Móvel que percorria toda a linha de costa e praias da Linha do Estoril, levando livros e cultura aos veraneantes. Este serviço iria chamar a atenção da Fundação Calouste Gulbenkian que anos mais tarde convidou Branquinho da Fonseca a idealizar e concretizar aquele ícone simbólico das Bibliotecas Itinerantes em Portugal.
 
Em 1958, Branquinho da Fonseca criou, através da Fundação Calouste Gulbenkian, aquele que ainda hoje pode ser considerado uma das maiores estruturas de Leitura Pública idealizadas e realizadas em Portugal e uma das primeiras redes de leitura pública do mundo.

As Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian foram, ao longo destes anos, importantes faróis de cultura e educação, em épocas obscuras onde o analfabetismo era promovido por um Estado controlador de actos e pensamentos e pouco interessado na educação do seu povo.

Este serviço itinerante de leitura, afectos e troca de informação foi percorrendo os recantos mais escondidos e inacessíveis de Portugal, ainda hoje permanecem vestígios da sua influencia na vida de milhares e milhares de antigos utilizadores/visitantes/Amigos que recordam com a saudade a sua passagem e para o qual têm uma divida eterna de gratidão pois graças a este serviço despertaram pela primeira vez com o Livro e criaram hábitos de leitura, que sem duvida os transformaram em melhores e mais esclarecidos cidadãos.

Em 2002, a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu terminar este valoroso projecto de leitura pública entregando a responsabilidade da sua continuação aos municípios onde estavam instalados os serviços itinerante e fixos das bibliotecas. Os acervos foram integrados nas bibliotecas municipais ou simplesmente mudaram de designação. Em relação aos veículos, alguns municípios respeitaram a nobreza do projecto e mantiveram o serviço até aos dias de hoje, nuns casos mantendo até ao limite a sua durabilidade apostando na sua fiabilidade mecânica e estrutural.


Alguns municípios, interpretando correctamente a funcionalidade e a afectuosa ligação do serviço itinerante de biblioteca com as populações, nunca deixaram morrer este serviço, ao invés, apostaram na sua modernização e implementação.

Ao longo destes quase 9 anos de andanças por terras e gentes de Proença-a-Nova, a Bibliomóvel e os seus recursos humanos, bibliográficos e sentimentais foram-se entranhando na paisagem e no quotidiano dos seus utilizadores/visitantes/Amigos, apostando e baseando os seus serviços em valores como a Proximidade, a Periodicidade, a Cumplicidade e a Amizade, que constituem a imagem de marca não só da Bibliomóvel de Proença-a-Nova, mas de todos os serviços itinerantes de biblioteca. 

Esta busca incessante de novos utilizadores fora das ameias, por vezes demasiado altas das bibliotecas comuns, são um desafio cada vez maior numa sociedade em constante movimento e com utilizadores cada vez mais voláteis, importa não esquecer em épocas de crise, precisamente aqueles que estão ou foram ficando para trás no acesso a informação e na promoção e divulgação do Livro e da Leitura.

As Bibliotecas Itinerantes jogaram um importante papel, no esbater das desigualdades de acesso ao Livro e a Leitura, fruto do isolamento social e geográfico de algumas populações. Hoje, e com certeza no futuro, irão continuar o seu importante papel de aproximação e disponibilização de recursos bibliográficos, humanos e sentimentais, indo ao encontro dos seus utilizadores, visitantes e Amigos.

Um comentário:

  1. Excelente síntese. Só um pequeno reparo relativamente ao papel de Branquinho da Fonseca em Cascais: onde se lê" toda a linha de costa e praias da Linha do Estoril, levando livros e cultura aos veraneantes. " a última preocupação de BF seria, com toda a certeza, os veraneantes ... e não era toda a linha da costa: o importante era mesmo o interior do concelho. Parabéns pelo seu trabalho em torno da divulgação do livro e da leitura.

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