por Catia Lindemann
Pardini (2002) apregoa que
devemos e podemos ser mais do que meros classificadores, catalogadores e
disseminadores da informação. O bibliotecário também é um agente educacional,
sua missão vai além dos limites técnicos e pode sim fazer a diferença nas mais
variadas camadas sociais.
Vivemos o pleno auge do “bum
‘www’”, em que as bibliotecas físicas cada vez dão mais espaço às plataformas
digitais, a informação nos chega nos mais variados suportes, e o bibliotecário
insere-se justamente dentro desta sua capacidade de atuação multidisciplinar.
Este é o lado bom e bonito da contemporaneidade. A tecnologia disponibilizando
obras em que o leitor sequer precisa sair de casa. Mas como tudo na vida, e o
lado obscuro deste contexto? Sim, pois ele existe e, por incrível que pareça,
ainda existem locais em que o livro sequer chegou. Submundos abrigando pessoas
que nunca leram um só livro e nem os têm à sua disposição.
É dentro deste cenário
desolador que entra o trabalho da bibliotecária Neli Miotto, coordenadora
responsável pelo Banco de Livros da Federação das Indústrias do Rio Grande do
Sul (FIERGS). Seu trabalho consiste em campanhas que incentivam a doação de
livros, e, posterior a isso, ela monta bibliotecas e espaços de leituras,
transformando as obras em verdadeiras ferramentas que atuam desde a formação de
novos leitores à terapia ocupacional, como é o caso das cadeias. O apenado
utiliza seu tempo ocioso com leituras nas unidades de informação implantadas
pelo Banco de Livros sob a coordenação de Neli. Trata-se de um trabalho tão
grandioso e rico de valores sociais e também emocionais que os próprios presos
sentem a necessidade de retribuir esta ação, e o fazem confeccionando
mobiliários para bibliotecas infantis, totalmente feitos com caixotes velhos,
reaproveitados e devidamente tratados, para servir de estantes para outras
comunidades. Temos aí também os valores reflexivos de Educação Ambiental aliado
aos valores humanos, em que os indivíduos recebem o seu
espaço literário e retribuem de modo que outros possam ter o mesmo. E quem é o
profissional responsável por este grande ciclo? Um bibliotecário!
Mas o trabalho de Neli não
se restringe apenas às cadeias, ele ultrapassa os limites de ambientes lógicos
e imagináveis. Pensem num posto de saúde, em que os pacientes esperam por um
longo período de tempo para o atendimento, sentados, entediados, na maioria das
vezes até contrariados. Pois em muitos destes locais a realidade é diferente.
Neli montou salas de leitura onde crianças possuem espaços para brincar ou
desenhar e onde adultos podem pegar um livro para ler enquanto aguardam o
atendimento.
E a terapia por meio dos
livros, a Biblioterapia? Sim, Neli também sabe o quanto a leitura pode ajudar
nos casos em que o fator principal é o psicológico e, assim, equipou com livros
os ambientes que prestam serviço de atendimento no tratamento de dependentes
químicos.
Voltando à consciência
ecológica, lembrando que os novos tempos urgem por entendimento sustentável,
por que não trocar lixo por livro? Pois o Banco de Livros acreditou que isso
não somente é possível como também viável, e Neli nos brinda com este projeto
maravilhoso que atualmente percorre todo o Estado do Rio Grande do Sul. Em sua
percepção, esta ideia desperta a consciência de que é preciso reciclar, ensinar
os jovens e adolescentes a fazerem a separação do lixo limpo. Para cada quatro
quilos de lixo reutilizável, dois livros. Um fica com o aluno e outro vai para
sua instituição de ensino. Temos aí, então, mais de uma ação, pois ganha a
sociedade, ganha o estudante e ganha a biblioteca escolar!
São inúmeros os espaços
literários implantados por Neli à frente da coordenação do Banco de Livros:
asilos, instituições para menores infratores, abrigo de menores, ONGs,
associações, aldeias indígenas, um leque que nos levaria a ficar aqui
extensamente listando. Mas o que de fato é pertinente, relevante para a nossa
área, é saber que a nomenclatura deste trabalho maravilhoso se chama
“Biblioteconomia Social”. Uma prática bibliotecária de cunho humanístico e
resultado social, que percorre os mais diversos tipos de comunidades, fazendo
do livro uma “ponte” de inclusão social.
Neli Miotto nos prova que a
Biblioteconomia Social não é um jeito novo de fazer Biblioteconomia, e sim uma
maneira de se aplicar a técnica bibliotecária em função do social. Uma Biblioteconomia
consciente do seu papel político, social e ativo, que disponibiliza a todos o
maior tesouro social da humanidade: a informação.
Confira mais informações do trabalho de Neli em: <http://www.youtube.com/watch?v=iyU9QlE_Njw>.
--
Fonte consultada:
PARDINI, Maria Aparecida. Biblioterapia! Encontro perfeito entre o
bibliotecário, o livro e o leitor no processo de cura através da leitura.
Estamos preparados para essa realidade? SEMINARIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS, 12., 2002, Recife. Anais...
Recife: UFPE, 2002. 13 p.
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