quarta-feira, 24 de junho de 2015

BIBLIOTECONOMIA SOCIAL: MISSÃO BIBLIOTECÁRIA


por Catia Lindemann

Pardini (2002) apregoa que devemos e podemos ser mais do que meros classificadores, catalogadores e disseminadores da informação. O bibliotecário também é um agente educacional, sua missão vai além dos limites técnicos e pode sim fazer a diferença nas mais variadas camadas sociais.

Vivemos o pleno auge do “bum ‘www’”, em que as bibliotecas físicas cada vez dão mais espaço às plataformas digitais, a informação nos chega nos mais variados suportes, e o bibliotecário insere-se justamente dentro desta sua capacidade de atuação multidisciplinar. Este é o lado bom e bonito da contemporaneidade. A tecnologia disponibilizando obras em que o leitor sequer precisa sair de casa. Mas como tudo na vida, e o lado obscuro deste contexto? Sim, pois ele existe e, por incrível que pareça, ainda existem locais em que o livro sequer chegou. Submundos abrigando pessoas que nunca leram um só livro e nem os têm à sua disposição.

É dentro deste cenário desolador que entra o trabalho da bibliotecária Neli Miotto, coordenadora responsável pelo Banco de Livros da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS). Seu trabalho consiste em campanhas que incentivam a doação de livros, e, posterior a isso, ela monta bibliotecas e espaços de leituras, transformando as obras em verdadeiras ferramentas que atuam desde a formação de novos leitores à terapia ocupacional, como é o caso das cadeias. O apenado utiliza seu tempo ocioso com leituras nas unidades de informação implantadas pelo Banco de Livros sob a coordenação de Neli. Trata-se de um trabalho tão grandioso e rico de valores sociais e também emocionais que os próprios presos sentem a necessidade de retribuir esta ação, e o fazem confeccionando mobiliários para bibliotecas infantis, totalmente feitos com caixotes velhos, reaproveitados e devidamente tratados, para servir de estantes para outras comunidades. Temos aí também os valores reflexivos de Educação Ambiental aliado aos valores humanos, em que os indivíduos recebem o seu espaço literário e retribuem de modo que outros possam ter o mesmo. E quem é o profissional responsável por este grande ciclo? Um bibliotecário!

Mas o trabalho de Neli não se restringe apenas às cadeias, ele ultrapassa os limites de ambientes lógicos e imagináveis. Pensem num posto de saúde, em que os pacientes esperam por um longo período de tempo para o atendimento, sentados, entediados, na maioria das vezes até contrariados. Pois em muitos destes locais a realidade é diferente. Neli montou salas de leitura onde crianças possuem espaços para brincar ou desenhar e onde adultos podem pegar um livro para ler enquanto aguardam o atendimento.  




E a terapia por meio dos livros, a Biblioterapia? Sim, Neli também sabe o quanto a leitura pode ajudar nos casos em que o fator principal é o psicológico e, assim, equipou com livros os ambientes que prestam serviço de atendimento no tratamento de dependentes químicos.

Voltando à consciência ecológica, lembrando que os novos tempos urgem por entendimento sustentável, por que não trocar lixo por livro? Pois o Banco de Livros acreditou que isso não somente é possível como também viável, e Neli nos brinda com este projeto maravilhoso que atualmente percorre todo o Estado do Rio Grande do Sul. Em sua percepção, esta ideia desperta a consciência de que é preciso reciclar, ensinar os jovens e adolescentes a fazerem a separação do lixo limpo. Para cada quatro quilos de lixo reutilizável, dois livros. Um fica com o aluno e outro vai para sua instituição de ensino. Temos aí, então, mais de uma ação, pois ganha a sociedade, ganha o estudante e ganha a biblioteca escolar!

São inúmeros os espaços literários implantados por Neli à frente da coordenação do Banco de Livros: asilos, instituições para menores infratores, abrigo de menores, ONGs, associações, aldeias indígenas, um leque que nos levaria a ficar aqui extensamente listando. Mas o que de fato é pertinente, relevante para a nossa área, é saber que a nomenclatura deste trabalho maravilhoso se chama “Biblioteconomia Social”. Uma prática bibliotecária de cunho humanístico e resultado social, que percorre os mais diversos tipos de comunidades, fazendo do livro uma “ponte” de inclusão social.

Neli Miotto nos prova que a Biblioteconomia Social não é um jeito novo de fazer Biblioteconomia, e sim uma maneira de se aplicar a técnica bibliotecária em função do social. Uma Biblioteconomia consciente do seu papel político, social e ativo, que disponibiliza a todos o maior tesouro social da humanidade: a informação.

Confira mais informações do trabalho de Neli em: <http://www.youtube.com/watch?v=iyU9QlE_Njw>.  

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Fonte consultada:

PARDINI, Maria Aparecida. Biblioterapia! Encontro perfeito entre o bibliotecário, o livro e o leitor no processo de cura através da leitura. Estamos preparados para essa realidade? SEMINARIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 12., 2002, Recife. Anais... Recife: UFPE, 2002. 13 p.

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