segunda-feira, 17 de agosto de 2015

NEM SEMPRE “MAOMÉ” VAI À “MONTANHA”...



Um dia desses estávamos a conversar com um determinado professor, de uma área distinta da Biblioteconomia, sobre o atual perfil do bibliotecário, em especial aquele que atua em biblioteca universitária. Num determinado momento da conversa, explicamos para ele que o mercado tem exigido cada vez mais que o bibliotecário saia da sua “zona de conforto”, da sua mesa ou estação de trabalho, de trás do balcão de atendimento, e vá além das quatro paredes da biblioteca, ao encontro do usuário.

Imediatamente o professor, que reconheceu a importância da nossa profissão, fez um paralelo com uma história que ouvira há tempos atrás: “(...) um certo advogado, em início de carreira, disse certa vez: ‘não vai adiantar muito esperar que o cliente venha ao meu escritório (...) É preciso que eu vá até ele’ (...)”.

Com base nesse exemplo, poderíamos iniciar aqui uma discussão em duas vertentes: estratégias de marketing e serviço de referência. Escolhemos a segunda opção para esta abordagem, deixando a primeira para outra ocasião mais oportuna.

Recordamo-nos, então, do texto de Accart (2012, p. 122), que traz o conceito de walking reference (literalmente “referência ambulante”) aplicado ao contexto das bibliotecas norte-americanas, representando uma atitude proativa por parte do bibliotecário ante o usuário. É sair do balcão de atendimento, das quatro paredes da biblioteca, e ir ao encontro do “cliente”, estando atento, observando e ouvindo as suas necessidades de informação. Outro conceito trazido por Accart (2012, p. 122-123) é o de street reference (“referência de rua”), exemplificada pelo autor como aquela praticada em intervenções, manifestações ou eventos que acontecem na rua (e por que não nas universidades?).

Voltando ao exemplo citado pelo professor, fazendo uma analogia aplicada ao cotidiano do bibliotecário, nem sempre nossos “clientes” vêm ou virão até nós. Far-se-á necessário, muitas e muitas vezes, nós irmos até eles, com aquele “diferencial” que somente nós, bibliotecários, temos. Cordialidade, empatia, “saber ouvir”, apresentar os recursos informacionais disponíveis e entregar além da informação solicitada são algumas das atitudes que fazem total diferença no atendimento. Trazendo as definições de Accart (2012) para a nossa realidade, temos constatado a necessidade de ministrarmos treinamentos em laboratórios e em salas de aula, de firmarmos parcerias com docentes e discentes, planejarmos intervenções a serem feitas no entorno de nossas bibliotecas, de criarmos demandas (caso estas ainda não existam) em nossos usuários, de apresentarmos os recursos e serviços oferecidos por nossas bibliotecas da maneira mais completa e que contemple o maior número possível de “clientes”.

Certamente, as dificuldades não são / serão poucas, desde a falta de pessoal disponível para levar esse trabalho adiante até a ausência de público nos possíveis “eventos” programados. No entanto, quando tentamos enxergar com a “visão” do usuário, inferindo as suas necessidades de informação e observando atentamente os seus anseios, e receios (sim, alguns usuários ainda têm receio do ambiente biblioteca), conseguimos nos motivar para contornar os obstáculos, vencer os desafios e oferecer um legítimo serviço de referência, superando a expectativa do nosso “cliente”. O resultado disso nós já sabemos: vem aquele “muito obrigado” sincero, carregado de elogios e cheio de reconhecimento e valorização da nossa profissão.

Seguimos, então, à risca o que diz o ditado popular: “se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé”.

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Fonte consultada:

ACCART, Jean-Philippe. Serviço de referência: do presencial ao virtual. Tradução: Antonio Agenor Briquet de Lemos. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 2012.

Imagem: Ministério da Cultura de Buenos Aires.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

PAIS DA BIBLIOTECONOMIA

por Ana Luiza Chaves

Dias dos Pais vem aí... Que tal pensar nos pais da Biblioteconomia?

Elejo os Pais da Biblioteconomia e teço algumas considerações sobre suas atuações, a partir das informações disponíveis na grande rede. 

Inicio com Calímaco de Sirene (310 a.C.-240 a.C), na Antiguidade, professor, gramático, poeta, mitógrafo grego, bibliotecário e diretor da Biblioteca de Alexandria, com o feito de organizar o primeiro catálogo sistematizado, organizando 490.000 rolos de papiros, para elaboração de um catálogo por assunto, onde constariam por essa ordem, os nomes dos autores alfabeticamente organizados. Considerando o contexto da época, Calímaco iniciou, assim, a ordem do caos. Antes dele, somente por sorte alguém seria capaz de encontrar um texto específico. 

Passo agora para São Jerônimo (348-420), nos fins da Antiguidade, o Santo Doutor da Igreja Católica, que traduziu a Bíblia do grego antigo e do hebraico para o latim. Essa edição foi denominada Vulgata, que é o texto oficial da Igreja Católica, originando-se dela outras traduções em línguas românicas. Há fontes que o considera o santo padroeiro dos Bibliotecários, pelo grande leitor que foi, pela excelente memória que tinha, por ter a maior biblioteca pessoal da Roma Antiga e pela ajuda em estabelecer a biblioteca papal em Roma, no século IV.

No meio da Idade Moderna surge um novo pai, Gabriel Naudé (1600-1653), agora mais preocupado com a profissão e com o profissional decorrente dela, libertando os livros da prisão, abrindo a biblioteca para o público, tornando-a mais dinâmica, sobretudo com a atuação do bibliotecário, que passou a se voltar para a orientação da leitura. 

Retomo a paternidade com Melvil Dewey (1851-1931), bibliotecário norte-americano, responsável pela Classificação Decimal Dewey-CDD, que tanto estudamos nos bancos acadêmicos, para aplicar na prática bibliotecária de classificar livros e alocá-los por assuntos nas estantes. O sistema é decimal, contendo 10 classes principais, 100 divisões e 1000 seções, obedecendo a uma hierarquia, foi tão difundido quanto modificado e expandido, existindo hoje mais de 20 edições. As bibliotecas da atualidade ainda utilizam a CDD.

Paul Otlet (1868-1944), foi um pai visionário! Autor, empresário, advogado e ativista da paz belgo, criou a Classificação Decimal Universal-CDU, instrumento que foi baseado na CDD, acrescentado de sinais para auxiliar nas facetas, necessárias para especificar as particularidades do documento. O autor teve a visão de uma grande rede de documentos para possibilitar as pesquisas de várias partes do mundo, com equipe especializada para o atendimento.



Passando pelo Brasil, encontro um pai brasileiro. Bastos Tigre (1882-1957), o primeiro bibliotecário por concurso no Brasil, exercendo a função por 40 anos e é por isso que a data de seu nascimento, 12 de março, é considerada o Dia do Bibliotecário, instituído pelo Decreto nº 84.631, de 12 de abril de 1980. Bastos Tigre também foi engenheiro, jornalista, poeta, compositor e humorista. 

Finalizo com o pai mais novo: Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972), bibliotecário da Índia, que estabeleceu as cinco leis da Biblioteconomia há mais de 40 anos e continuam válidas e aplicáveis na atualidade: 


1. Os livros são para usar; 
2. A cada leitor seu livro; 
3. A cada livro seu leitor; 
4. Poupe o tempo do leitor; 
5. A biblioteca é um organismo em crescimento.

E você, acrescentaria mais algum pai da Biblioteconomia a essa lista?

POR TRÁS DAS GRADES HAVIA UMA BIBLIOTECA

por Catia Lindemann

Esta é a história de Daniel Tiago Vieira, 35 anos, ex-presidiário que cumpriu doze anos de cadeia em regime fechado. Passou por várias instituições penais da região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Filho de pai homicida, traficante e com vasta ficha criminal, passou sua infância e adolescência no submundo da criminalidade, seguiu a trajetória do pai e foi parar atrás das grades. Daniel relata que:

Quando criança, eu sempre convivi com o crime. Dentro de casa havia drogas e armas, o linguajar era totalmente diferente das pessoas normais.

Preso e condenado com base nos Art. 157, 155 e 14, ele lembra o episódio que lhe “tirou o chão”. Por uma destas ironias da vida, Daniel, que praticava roubos à mão armada, teve sua mãe morta por um ladrão em um assalto ao coletivo onde ela era trocadora. Ele lembra emocionado:

Ela foi vítima de um ladrão... Um ladrão, irônico né?  Perdi o chão... Na mesma época a mãe dos meus filhos me abandonou, fiquei cinco anos sem visitas, sem contato com meus filhos. Ou eu me reconstruída ou me destruía de vez. Escolhi a primeira opção.

Mas atrás das grades também estava a presença de uma biblioteca, e foi dentro dela que ele buscou a reconstrução e encontrou os livros pela primeira vez na vida. Trabalhando dentro da biblioteca do Complexo Penitenciário de Segurança Máxima de Minas Gerais, ele se apaixona pela literatura, como ele mesmo cita:

Apaixonei-me por literatura, comia todas as literaturas disponíveis. Li tudo em sete anos... De Lígia Fagundes Telles a Fedor Dostoievski... E nos livros, descobri que tinha talento pra criar.

Com o Ensino Fundamental incompleto, mas completamente maravilhado pela presença dos livros em sua volta, Daniel decide voltar a estudar. Com o apoio dos educadores dentro do cárcere, ele completa o Ensino Médio. Enquanto estudava e trabalhava no cárcere, Daniel também escrevia:


Escrevi cinco livros de próprio punho, 200 páginas, 300 e até 400 páginas de histórias inspiradas nos livros e na realidade que eu vivia atrás as grades.




Seu trabalho na biblioteca consistia em distribuir os livros nos pavilhões, preencher ficha de cadastro dos presos para os empréstimos das obras e até catalogação junto da bibliotecária. Lendo, estudando e buscando respaldo nas obras do conhecimento, Daniel faz suas conjecturas sobre as pesquisas científicas, pois ele e vários outros colegas apenados já foram objeto de estudo dentro do cárcere, preenchendo questionários, dando entrevistas e colaborando com as áreas que buscam estudo nas cadeias. Ele é enfático ao afirmar:

Espero que pesquisas realizadas no cárcere sirvam para o meio acadêmico ver que é possível investir na recuperação de seres humanos, que tiveram de certa forma uma dificuldade de ter tido uma família que passasse princípios e bons exemplos. Claro que isso jamais pode servir de subterfúgios para cometer "crimes", mas não deixa de ser um fator contribuinte.

Na ausência de papel para seguir escrevendo, Daniel reciclava o lixo da cadeia e o transformava em folhas que não tardavam em ganhar suas palavras. Da bibliotecária ele lembra apenas que se chamava Tânia Maria; no entanto, ele se lembra dela com carinho e nos conta que ela comprou material para seu segundo livro com recursos próprios, pois ao ler “Paradoxos de Vidas” (primeiro livro) Tânia encontrou em Daniel um potencial que não poderia ser desperdiçado, além de perceber o quanto os livros haviam mudado aquele rapaz.

E não foi apenas esta bibliotecária que se comoveu com a garra e talento de Daniel. A professora de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Alessandra Vieira, recebeu uma carta de Daniel quando ainda preso e divulgou sua luta, sua história e fez campanha para que seus livros pudessem ser publicados. O material está disponível no site “Sociedade sem Prisões” (ver http://zip.net/blrKqc).


Quando passou para o presídio José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves (MG), Daniel não encontrou a presença da biblioteca. Infelizmente, essa ausência ainda é realidade em grande parte das prisões brasileiras, mas vale ressaltar que a existência de bibliotecas em penitenciárias não é um privilégio, e sim lei! Para ratificar esta afirmação, amparamo-nos na nossa Constituição Federal ver (http://zip.net/bprLL9), a qual assegura tal direito no Art. 5º, inciso XIV, ao prever o direito à assistência educacional aos presos, sendo o Ensino Fundamental obrigatório e recomendada, ainda, a existência de Ensino Profissional e a presença de bibliotecas nas unidades prisionais.

Temos a Resolução nº 14 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, de 11 de novembro de 1994, publicada no DOU de 02 de dezembro de 1994, Título 1, Capítulo XII, Das instruções e assistência educacional, Art. 41 que afirma:

Os estabelecimentos prisionais contarão com bibliotecas organizadas com livros de conteúdo informativo, educativo e recreativo, adequados à formação cultural, profissional e espiritual do preso.

O exemplo de Daniel ilustra o quanto a literatura é capaz de alavancar a autoestima dos encarcerados e lhes devolver os sonhos até então enclausurados tanto quanto o detento. Por meio da leitura, homens e mulheres, a quem foi imposta uma medida restritiva de liberdade, provam ser, sobretudo, indivíduos que permanecem com suas potencialidades intelectuais. Independente do delito cometido, é possível comprovar que por meio da educação literária o apenado encontra o “combustível” necessário para que sua identidade seja salvaguardada e passa a nutrir o alento de que mudar é possível, e os livros podem e devem ser o caminho que o levará de volta para a liberdade. O conhecimento pode tornar-se uma diretriz para seguir sem que o estigma de ser um ex-detento lhe seja um fardo tão pesado que o faça sucumbir ao delito novamente.

Para quem acompanha nosso projeto de Biblioteconomia Social em parceria com o Mural Interativo do Bibliotecário e está agora se perguntando o que isso tem a ver com o nosso tema, eu lhes afirmo: tudo! A Biblioteconomia é o bibliotecário, e se o papel do profissional da informação consistir em mostrar a relevância pertinente dos livros e o quanto eles são capazes de resgatar vidas, então isso é Biblioteconomia Social.

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Confira maiores detalhes em: <http://www.youtube.com/watch?v=eUKnraWjWu0&feature=youtu.be>. Acesso em: 05 ago. 2015.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

“ONDE O GALO CANTA, ALMOÇA E JANTA”: ENTENDENDO A PRESENÇA DAS BIBLIOTECAS NAS REDES SOCIAIS

A presença de bibliotecas nas redes sociais torna-se uma realidade cada vez mais presente nos dias atuais, e foi sob essa perspectiva que apresentamos o nosso trabalho na 26ª edição do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD 2015), realizado em São Paulo-SP.

A Internet possibilitou novas conexões e ampliou o universo das bibliotecas no que se refere à comunicação com a comunidade a que atende. A comunicação, a partir das redes sociais, tornou-se menos rígida e formal; facilitou, ainda, a interação, a transparência e o compartilhamento de informações, criando, dessa forma, uma comunicação mais ativa e participativa; e proporcionou novas formas de interação por meio da Web 2.0. Ao ingressarem nas redes sociais, as bibliotecas criam demandas diárias de interação com os seus usuários, exigindo do bibliotecário uma dedicação e uma disponibilidade de tempo que nem sempre ele dispõe.

Nesse sentido, observam-se, na prática, alguns entraves enfrentados pelas bibliotecas, que dificultam ou condicionam a sua presença nas redes sociais, pautados diretamente nas questões dos recursos humanos, conteúdos e usuários. Corroborando essa afirmação, Godeiro e Serafim (2013, p. 3) afirmam: “Portanto, faz-se necessário buscar formas de enfrentar tais desafios, transformando-os em benefícios para a unidade de informação”. Dentre as dificuldades citadas acima, destacamos as relacionadas com o “conteúdo”; por meio dele a biblioteca garantirá a sua presença constante nas redes sociais. As dificuldades das bibliotecas em relação aos conteúdos, segundo afirmam Godeiro e Serafim (2013), são referentes à “desatualização dos conteúdos já postados”; “conteúdos e informações interessantes para o usuário”, e “qual linguagem utilizar, a formal ou informal?”.

Tendo como base essa realidade, a nossa apresentação teve como “pano de fundo” a fanpage do Mural Interativo do Bibliotecário, a qual, de acordo com as nossas observações, tem servido de suporte informacional para bibliotecas e bibliotecários na disseminação de conteúdos relevantes e atualizados. Ao observarmos o crescimento espontâneo da página e a repercussão alcançada dentro da rede social, utilizamos as métricas disponibilizadas pelo Facebook para identificar quem eram os nossos fãs. Identificamos, então, que, além das pessoas físicas, 86 bibliotecas seguiam a fanpage, considerando o período de janeiro a março de 2015.

Baseados nessa informação, delineamos o objetivo geral do nosso trabalho, que foi identificar a contribuição do Mural Interativo do Bibliotecário como suporte à disseminação de informações relevantes para as bibliotecas dentro das redes sociais. Como objetivos específicos, definimos avaliar o interesse das bibliotecas em seguir a nossa fanpage e descrever a forma como acontece o engajamento das bibliotecas com o Mural. Nossa justificativa deu-se pela necessidade de entender a contribuição real que a fanpage apresenta para as bibliotecas que são seguidoras do Mural Interativo Bibliotecário. Para tanto, fez-se necessário esclarecermos a escolha do título do nosso trabalho: “Onde o galo canta, almoça e janta”, que é um título que faz menção a um adágio popular.


Segundo o Dicionário Aurélio, adágio é uma “espécie de provérbio que recorda com seriedade o que é usual; máxima, sentença popular.” (AURÉLIO, 2015, online). Em se tratando de mídia social, que lida com acessos, que geram acessos, que, por sua vez, geram novos acessos e assim por diante, ou seja, uma verdadeira progressão exponencial, nada mais adequado para este artigo do que ser intitulado como algo que é reconhecido pelo povo, que está “na boca do povo” e que é multiplicado pelo povo, de geração em geração, como é o caso de um ditado popular. O título, além de traduzir a troca em si: “Vou cantar aqui, mas, em troca, quero almoçar e, como gostei, vou também jantar, prossegue além da troca: Já que gostei, vou ficando por aqui e divulgando por aí, quem sabe fazemos uma orquestra, tocamos os corações e agradamos ainda mais.”

Mas o que tudo isso tem a ver com o Mural Interativo do Bibliotecário?

Conforme temos visto diariamente aqui na fanpage, essa troca pode ser de informações, de experiências, de ideias, de serviços e/ou de interesses profissionais. E, fazendo uma analogia com o referido ditado popular, a ideia não se resume a uma simples troca, pois vai além disso. Para se permanecer nessa situação de troca constante, de fidelização e de confiabilidade junto a uma comunidade seleta, há de se ter valor agregado: uma imagem e uma identidade que traduz hospitalidade, acolhimento, credibilidade, reciprocidade e encantamento. Os fãs conhecem, validam, confiam, interagem e divulgam!

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REFERÊNCIAS

AURÉLIO. Adágio. Dicionário do Aurélio. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com>. Acesso em: 28 jun. 2015.

GODEIRO, Rebeka Maria de Carvalho Santos; SERAFIM, Andreza Nadja Freitas. O uso do Facebook como ferramenta para promoção de serviços em bibliotecas universitárias. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 25., Florianópolis, 2013. Anais... Disponível em: <http://portal.febab.org.br/anais/article/viewFile/1429/1430>. Acesso em: 22 abr. 2014.

HUNT, Tara. O poder das redes sociais: como o Fator Whuffie – o seu valor no mundo digital – pode maximizar os resultados de seus negócios. 2. ed. São Paulo: Editora Gente, 2010. 266 p.


PORTO, Camila. Facebook marketing: engajamento para transformar fãs em clientes. Curitiba: Quartel Digital, 2014. 113 p.

terça-feira, 21 de julho de 2015

LIVROS NO CÁRCERE: ENTRE A TÉCNICA BIBLIOTECÁRIA E A DEMANDA SOCIAL

por Catia Lindemann 

O embate neste assunto centra-se na dúvida: Será que basta levar obras literárias, catalogá-las e classificá-las nas estantes, disponibilizando aos apenados para de fato cumprir a missão da biblioteca/bibliotecário no cárcere? Pois lhes afirmo, por experiência própria, que é preciso readaptar e reinventar as técnicas bibliotecárias, considerando sempre que uma biblioteca deve ser moldada para o seu usuário e não o contrário. A premissa consiste que, no cárcere, lidamos com uma biblioteca destinada para um usuário diferenciado, onde as regras da prisão ultrapassam as regras da Biblioteconomia por uma questão de ordem e segurança.



Uma vez trabalhando com livros dentro da Instituição Penal é que se compreende que a teoria nem sempre consegue ação dentro da prática bibliotecária, manter uma biblioteca no cárcere é encarar a Biblioteconomia Social como uma nova realidade. E de que modo o bibliotecário deve se colocar diante desta realidade? Morigi (2002) cita que:

Não basta apenas realizar procedimentos técnicos (classificar, catalogar e indexar), estes, sem dúvida, são muito importantes para a formação do profissional. Entretanto, os bibliotecários devem ir além destes saberes e atividades técnicas, precisam buscar elementos teóricos ligados às ciências humanas, que fortaleçam a sua condição de cidadãos e profissionais.     

Portanto, é preciso, ainda, muito trabalho reflexivo para compreender que a atuação do profissional bibliotecário vai muito além de somente organizar o acervo desses espaços de leitura. O papel do bibliotecário vai além da técnica.
           
Segundo Trindade (2009), as bibliotecas prisionais desempenham uma função de cunho social de suma importância dentro do processo de ressocialização do apenado. Faz-se necessário que este profissional tenha ciência de que não lida apenas com a classificação de obras, mas, acima de tudo, com a classificação de saberes, fazendo valer o seu papel de agente de educação e de intermediário da informação.




No cárcere temos de reinventar e readaptar a Biblioteconomia. Tudo que aprendemos como teoria é contraposto quando se trata de biblioteca prisional. Olhar aquele espaço e lembrar-se de “Planejamento de Acervo”, mas lembrar de que lá dentro a priori é a segurança, a simples distribuição de estantes não pode ser colocada como de regra na “Biblio”, e sim de modo em que tenhamos a visão do apenado por completo, portanto, nada de estante na horizontal e sim dispostas na vertical. Ângulo que coloca em risco as obras, uma vez que o sol bate diretamente nas mesmas, mas que possibilita visão de tiro em caso de rebelião.

Adotar uma classificação que venha a ser não apenas entendida pelos apenados, mas acima de tudo compreendida, cumprindo também as metas eficazes de tempo e organização. Mesmo não sendo uma biblioteca escolar, se as cores correspondem ao entendimento do usuário apenado, então que assim seja, pois ele é o objeto direto do espaço de leitura. E se, ainda assim, ele sentir dificuldades, que seja então ouvido. Exemplo disso são as cores sugeridas pelos apenados, caso da cor azul clara que, segundo eles, é a cor do céu, que representa quem já morreu e, portanto, classificaria as obras de “Chico Xavier”.

Simplesmente alocar estantes num espaço vazio e nelas concentrar livros não torna o cárcere diferente em nada. Não basta levar as obras, é preciso torná-las familiares aos apenados, promovendo a mediação da leitura, debatendo e trazendo de volta preceitos eruditas de nossa profissão.


O cárcere trata de um público-alvo com suas especificidades. A biblioteca, enquanto espaço destinado às obras e à leitura, deve seguir, lógico, a técnica da Biblioteconomia e colocar em prática tudo o que nos foi ensinado durante a formação, porém a biblioteca, enquanto ferramenta social destinada ao apenado, não tem como seguir sozinha sem estar respaldada pelo respeito às regras do cárcere e, principalmente, respeito à cultura do preso, ou seja, Biblioteconomia Social.

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Confira maiores informações em: <http://www.youtube.com/watch?v=JG4tCPQu0U8&feature=youtu.be>. Acesso em: 21 jul. 2015.


REFERÊNCIAS

MORIGI, Valdir José. O bibliotecário e suas práticas na construção da cidadania. Revista ACB, Florianópolis, v. 7, n. 2, p. 135-147, jul. 2002. Semestral. Disponível em: <http://tinyurl.com/o38cly5>. Acesso em: 20 jul. 2015. 

TRINDADE, L. L. Biblioterapia e as bibliotecas de estabelecimentos prisionaisconceitos, objetivos e atribuições. 2009. 118 f. Monografia (Bacharelado em Biblioteconomia) – Departamento de Ciências da Informação e Documentação,
Universidade de Brasília, Brasília, 2009. Disponível em: <http://tinyurl.com/lznceoq>. Acesso em: 20 jul. 2015.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, MANGÁS, LEITURA E BIBLIOTECAS: PARTE II

por Juliana Lima




Com relação às histórias em quadrinhos ocidentais e aos mangás, você, leitor, deve estar se perguntando: histórias em quadrinhos são todas uma coisa só, ou não? Há diferenças de estilos ou de um país para o outro? De certa forma, diria que sim, tudo depende. A questão aqui não é se as histórias em quadrinhos são americanas, francesas, inglesas etc.

As HQs ocidentais são coloridas. Muitas delas são impressas em um papel de melhor qualidade, outras ainda são impressas em papel jornal, porém, ainda assim, são páginas coloridas, enquanto que os quadrinhos japoneses, em sua grande maioria, são em preto e branco e possuem folhas em papel jornal. Apesar disso, os mangás têm mesmo algo especial e, portanto, acabam se distinguindo dos demais estilos de HQs que estamos acostumados ou conhecemos, inclusive a começar pelo sentido da leitura (da direita para a esquerda), que é o oposto do modo ocidental (da esquerda para a direita).

O mangá é um produto cultural de massa, de origem nipônica, mas que conquistou o mundo e, principalmente, os brasileiros. É um produto cultural de massa tão legal e importante que tem até museu (ver Kyoto International Manga Museum: <http://www.kyotomm.jp/english/>)! E, por falar em museu, as HQs ocidentais também têm um museu, em Bruxelas (ver Comic Art Museum Brussels / Belgian Comic Strip Center: <http://www.comicscenter.net/en/home>). Mas, voltando aos mangás, o crescimento deles fez com que deixassem de ser exclusividade japonesa e passasse a influenciar os estilos dos quadrinhos de outros países, como o "Manhua", na China, e até o fatídico dia em que a Marvel se rendeu ao traço do mangá.

O que as HQs ocidentais e os mangás têm em comum é que ambos se adaptaram às novas tecnologias, quer sejam distribuídos e vendidos pelas grandes editoras do ramo, ou sendo distribuídos na rede pelos fãs, e, ainda, utilizando recursos diversos tais como sons, movimentos, etc., tornando-os, assim, híbridos, conforme foi observado pelo pesquisador Edgar Franco em seu livro “HQtrônicas”, título que corresponde ao nome que Franco atribuiu às HQs que utilizam esses recursos. Outro ponto em comum entre as HQs ocidentais e os mangás é o fato de as bibliotecas nem sempre investirem num acervo de mangás. Já existem bibliotecas e gibitecas compostas de HQs ocidentais, enquanto que ainda há bibliotecas que fogem do mangá assim como “o diabo da cruz”.

A literatura culta é sim bastante importante e necessária, mas, em alguns locais, as HQs, sejam elas orientais ou ocidentais, continuam sendo consideradas “subliteraturas”, apesar do esforço de alguns profissionais em mostrar que os quadrinhos também são importantes na formação do leitor. Inclusive, o autor Sidney Gusman já alertou que o mangá, hoje, é o único formador de leitores do mercado brasileiro em quadrinhos.


 
 Imagens extraídas da Internet (WIKIPÉDIA).



De acordo com Luyten (2002, p. 3), o artista Katsushita Hokusai, entre 1814 e 1848, foi o responsável por criar e cunhar o termo “mangá”, que é a junção de man (involuntário) e ga (desenho, imagem), cuja palavra resultante significa imagens involuntárias. Originalmente, a palavra não possui acentuação, porém no Brasil convencionou-se a utilização do acento para evitar a confusão com a palavra manga, com sentido de fruta ou parte da camisa (LUYTEN, 2002, p. 6).


Os mangás possuem características próprias que o diferem significativamente de outros quadrinhos, principalmente dos famosos comics americanos. O planejamento é diferente, a classificação e a editoração são processos que apresentam um caráter peculiar. O mangá é revista em quadrinhos, com diferentes gêneros e categorias, de leitura popular e que abrange qualquer tipo de público. É uma leitura de prazer, sem preconceitos. Além disso, vale ressaltar que possui características editoriais específicas: divisão por sexo e idade, estilo e conteúdo. Existe também uma forte identificação entre o leitor e os personagens, pelo fato de suas histórias abordarem temas e aspectos que nem sempre aparecem nos quadrinhos tradicionais.

Gravett (2006) nos conta que durante muito tempo os quadrinhos japoneses foram vítimas de preconceitos por parte do ocidente. Mesmo em sua terra natal, o mangá é visto como um produto da cultura popular e é considerado por alguns como “subliteratura”, pois abre espaço para todos, no sentido de que se publica de tudo, desde uma disputa no campo da culinária até o sonho de tornar-se jogador de futebol ou de basquete, além das obras mais “marginais”, especialmente as de cunho erótico, e alguns enredos podem parecer muito exóticos para a cultura ocidental. Fernandes ([200-]) corrobora que a maior crítica ao mangá é relativa à presença de violência e sexo nessas histórias.

Contudo, apesar da crítica, é preciso observar determinados aspectos: primeiro, a publicação de mangás é feita por faixa etária e de acordo com o público. Significa dizer que as histórias feitas para crianças não apresentam as características fortemente criticadas. A autora explica: “Mangá, revista em quadrinhos japonesa muito pouco conhecida entre educadores e que, com quadrinhos em preto e branco e desenhos com traços fortes dá uma primeira impressão, pela sua diagramação e aparência física, de leitura de histórias violentas e sem conteúdo formador para os jovens leitores.” (FERNANDES, [200-], p. 1-2).

 Imagens extraídas da Internet (WIKIPÉDIA).



Os estudos realizados por Fernandes ([200-]), Luyten (2005) e Vergueiro (2007) apontam na direção contrária do que é dito acerca do mangá. O processo de recepção não é algo passivo, o consumidor reelabora o que lê num processo de “simbiose”. Benjamin (1994 citado por FERNANDES, [200-], p. 3) identifica a narrativa tradicional como uma troca de experiências. O mangá possui esse aspecto da narrativa, no qual o conceito é transmitido ao leitor, e são realizadas longas reflexões por meio dos personagens com os quais o leitor se identifica. O mangá representa não somente uma história que é contada: aborda temas, estilos, concepções e conceitos baseados na capacidade criativa, sempre diferenciada em seus autores, cada um influenciado por suas experiências.

Ler mangá é, na verdade, um convite a experimentar as sensações dos seus criadores ao criarem a narrativa e, ao fazermos uma releitura, nos remetermos a algo que anteriormente passou despercebido. Talvez, esses sejam os maiores ingredientes da receita de sucesso do mangá.

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Fontes consultadas:

FERNANDES, Adriana Hoffmann. O jovem e o consumo do mangá: reflexões sobre narrativa e contemporaneidade. Disponível em: <http://www.emdialogo.uff.br/sites/default/files/GT16-2202--Int.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2015.
 
FRANCO, Edgar Silveira. A indústria das HQs logo sentirá o baque dos downloads. O POVO, Fortaleza, 17 fev. 2008. Caderno 3, p. 8.

______. HQtrônicas: do suporte papel à rede internet. 2. ed. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2008.

GRAVETT, Paul. Mangá: como o Japão reinventou os quadrinhos. São Paulo: Conrad, 2006.

LUYTEN, Sonia M. Bibe. Cultura pop japonesa. São Paulo: Hedra, 2005.

______. Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses. São Paulo: Hedra, 2002.

MOLINÉ, Alfons. O grande livro dos mangás. São Paulo: JBC, 2004.

VASCONCELLOS, Pedro Vicente Figueiredo. Mangá-dô: os caminhos das histórias em quadrinhos japonesas. 2006. 220 f. Dissertação (Mestrado em Design) – Centro de Teologia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2006.

VERGUEIRO, Waldomiro. A atualidade das histórias em quadrinhos no Brasil: a busca de um novo público. História, imagem e narrativas, ano 3, n. 5, set. 2007.