segunda-feira, 19 de outubro de 2015

LINGUAGEM NATURAL OU LINGUAGEM CONTROLADA?

por Edvander Pires

É de suma importância que acervo, indexação e usuário “conversem” uma mesma linguagem nos sistemas de recuperação da informação de nossas bibliotecas e centros de documentação, independente se as informações remetem a acervo físico ou digital. Nesse sentido, cria-se um vínculo entre a composição do acervo, o processamento técnico da informação e a comunidade usuária, e entendemos que esse vínculo deve ser respeitado e se refletir na eficiência e eficácia no momento da recuperação da informação. Contudo, para que haja uma recuperação da informação eficiente e eficaz, faz-se necessária uma representação fidedigna do documento a ser incorporado no acervo. Desse processo, sabemos que fazem parte as etapas da indexação (análise conceitual, tradução e controle de qualidade) e algumas das etapas do processo de referência (estratégia de busca, processo de busca e resposta ao usuário).














Com a tecnologia disponível atualmente, que se reflete no desenvolvimento de softwares específicos em gerenciamento de tesauros, por exemplo, percebemos que as relações entre os termos ainda atendem satisfatoriamente às necessidades de representação e recuperação da informação, na medida em que é possível o gerenciamento de termos descritores, em tempo real, a partir da linguagem adotada pelo usuário na produção (autoria) ou no “consumo” (pesquisa) da informação. O trabalho de uma equipe multidisciplinar é, portanto, essencial para validar todo e qualquer tipo de vocabulário controlado como uma ferramenta de indexação, a partir da linguagem natural utilizada pelo usuário.

Disponibilizar uma ferramenta que contenha termos descritores elencados de uma forma sistemática certamente poupará o tempo do usuário ao selecionar palavras-chave nos casos de autoarquivamento de publicações em repositórios digitais ou mesmo no momento da pesquisa. Para o bibliotecário, o resultado virá com a consolidação de uma indexação semiautomática fidedigna para os catálogos online e bibliotecas digitais, possibilitando padronização e coerência na atribuição de termos de acordo com a especificidade de cada área do conhecimento trabalhada na biblioteca, o que trará, por conseguinte, uma maior possibilidade para o usuário nas pesquisas, tendo em vista a relação a ser estabelecida entre os descritores.













Ferramentas de controle de vocabulário, como os tesauros, também podem ser utilizadas satisfatoriamente na dinamização do serviço de Disseminação Seletiva da Informação (DSI), por exemplo. À medida que termos descritores são incorporados hierárquica e sistematicamente, tanto bibliotecários quanto usuários poderão selecionar os assuntos que interessem a uma determinada comunidade atendida pela biblioteca ou pelo centro de documentação. Os assuntos poderão ser filtrados no catálogo online, no repositório institucional, ou no campo de busca do software que a instituição utilize, de uma maneira com que o próprio sistema notifique automaticamente o usuário acerca de publicações ou de documentos sobre um assunto específico, listado preferencialmente na estrutura do tesauro. Assim, aliam-se processamento técnico da informação e serviço de referência visando à satisfação plena das necessidades de informação dos usuários.

Mesmo com o desenvolvimento da tecnologia, surgimento dos motores de busca, autonomia dos pesquisadores na Internet, indexação automática e semiautomática em larga escala, dentre outros exemplos, entendemos que a estrutura de um tesauro ainda pode ser explorada sob diferentes níveis numa instituição, em contextos diversos e a partir de adaptações nas formas de trabalho, já que a catalogação e a indexação ainda não são atividades totalmente mecânicas (se é que serão algum dia) e necessitam de um bibliotecário como legítimo gestor da informação para dar qualidade a esses processos, ajustando os procedimentos quando e se necessário e trabalhando em conjunto com a comunidade usuária ao converter fidedignamente a linguagem natural para a linguagem do sistema. Reafirmamos, assim, o papel gerencial do bibliotecário enquanto mediador entre acervo (físico e/ou digital), sistema (indexação e busca) e usuário (com sua linguagem, necessidade de informação e especificidades).

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Fontes consultadas:

BENTES PINTO, Virgínia. Indexação documentária: uma forma de representação do conhecimento registrado. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 223-234, jul./dez. 2001. Disponível em: <http://www.brapci.ufpr.br/download.php?dd0=12859>. Acesso em: 06 abr. 2015.

GROGAN, David Joseph. A prática do serviço de referência. Tradução: Antonio A. Briquet de Lemos. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 1995.

VOGEL, Michely Jabala Mamede. Planejamento de Tesauros na Prática. In: EXTRALIBRIS. [Notas de aula]. [S.l.], 2015.

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