segunda-feira, 17 de agosto de 2015

NEM SEMPRE “MAOMÉ” VAI À “MONTANHA”...



Um dia desses estávamos a conversar com um determinado professor, de uma área distinta da Biblioteconomia, sobre o atual perfil do bibliotecário, em especial aquele que atua em biblioteca universitária. Num determinado momento da conversa, explicamos para ele que o mercado tem exigido cada vez mais que o bibliotecário saia da sua “zona de conforto”, da sua mesa ou estação de trabalho, de trás do balcão de atendimento, e vá além das quatro paredes da biblioteca, ao encontro do usuário.

Imediatamente o professor, que reconheceu a importância da nossa profissão, fez um paralelo com uma história que ouvira há tempos atrás: “(...) um certo advogado, em início de carreira, disse certa vez: ‘não vai adiantar muito esperar que o cliente venha ao meu escritório (...) É preciso que eu vá até ele’ (...)”.

Com base nesse exemplo, poderíamos iniciar aqui uma discussão em duas vertentes: estratégias de marketing e serviço de referência. Escolhemos a segunda opção para esta abordagem, deixando a primeira para outra ocasião mais oportuna.

Recordamo-nos, então, do texto de Accart (2012, p. 122), que traz o conceito de walking reference (literalmente “referência ambulante”) aplicado ao contexto das bibliotecas norte-americanas, representando uma atitude proativa por parte do bibliotecário ante o usuário. É sair do balcão de atendimento, das quatro paredes da biblioteca, e ir ao encontro do “cliente”, estando atento, observando e ouvindo as suas necessidades de informação. Outro conceito trazido por Accart (2012, p. 122-123) é o de street reference (“referência de rua”), exemplificada pelo autor como aquela praticada em intervenções, manifestações ou eventos que acontecem na rua (e por que não nas universidades?).

Voltando ao exemplo citado pelo professor, fazendo uma analogia aplicada ao cotidiano do bibliotecário, nem sempre nossos “clientes” vêm ou virão até nós. Far-se-á necessário, muitas e muitas vezes, nós irmos até eles, com aquele “diferencial” que somente nós, bibliotecários, temos. Cordialidade, empatia, “saber ouvir”, apresentar os recursos informacionais disponíveis e entregar além da informação solicitada são algumas das atitudes que fazem total diferença no atendimento. Trazendo as definições de Accart (2012) para a nossa realidade, temos constatado a necessidade de ministrarmos treinamentos em laboratórios e em salas de aula, de firmarmos parcerias com docentes e discentes, planejarmos intervenções a serem feitas no entorno de nossas bibliotecas, de criarmos demandas (caso estas ainda não existam) em nossos usuários, de apresentarmos os recursos e serviços oferecidos por nossas bibliotecas da maneira mais completa e que contemple o maior número possível de “clientes”.

Certamente, as dificuldades não são / serão poucas, desde a falta de pessoal disponível para levar esse trabalho adiante até a ausência de público nos possíveis “eventos” programados. No entanto, quando tentamos enxergar com a “visão” do usuário, inferindo as suas necessidades de informação e observando atentamente os seus anseios, e receios (sim, alguns usuários ainda têm receio do ambiente biblioteca), conseguimos nos motivar para contornar os obstáculos, vencer os desafios e oferecer um legítimo serviço de referência, superando a expectativa do nosso “cliente”. O resultado disso nós já sabemos: vem aquele “muito obrigado” sincero, carregado de elogios e cheio de reconhecimento e valorização da nossa profissão.

Seguimos, então, à risca o que diz o ditado popular: “se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé”.

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Fonte consultada:

ACCART, Jean-Philippe. Serviço de referência: do presencial ao virtual. Tradução: Antonio Agenor Briquet de Lemos. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 2012.

Imagem: Ministério da Cultura de Buenos Aires.

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