Por Ana Luíza Chaves e Fabíola Bezerra
Na última semana, a imprensa escrita, falada e televisiva, bem como as mídias sociais, tiveram como assunto de pauta principal o incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. De repente, os museus, de um modo geral, saíram do “anonimato” e do “esquecimento” e viraram assunto do dia.
Políticos, instituições, profissionais, todos, de um modo ou de outro, manifestaram sua opinião, sua indignação ou a sua indiferença ao incêndio. O acidente virou manchete na imprensa internacional e deixou muitos brasileiros envergonhados pela imagem de descaso público perante um importante bem histórico e cultural do país.
Como um efeito cascata, museus pelo Brasil afora foram vistoriados e laudados, validando o que os museólogos já sabiam: a maioria deles está com prazo de validade vencida. Como por encanto, ou mágica, o que era esquecido virou manchete, as “velhas reivindicações” foram resgatadas, muitos se “livraram” da culpa, pois em algum momento do “passado” tinham registrado a situação de perigo e de abandono do Museu Nacional.
Quando virou pauta do dia e autoridades foram pressionadas por soluções e/ou reparações pelos maus tratos e descasos, fiquei na expectativa e na esperança de que as bibliotecas públicas, além da Nacional, óbvio, fossem incluídas nas instituições que merecem atenção e cuidados emergenciais e/ou especiais.
Em fevereiro deste ano, um incêndio atingiu uma sala no terceiro andar do prédio da Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco, no campus Recife.
Uma biblioteca pública do Maranhão, o Farol do Saber, na cidade de Cidelândia, a 640 km de São Luís, também pegou fogo, consumindo livros e móveis, na madrugada do sábado que antecedeu o domingo do incêndio do museu.
A reforma da fachada do prédio da Biblioteca Nacional, que trouxe de volta as características originais do prédio com o reparo nas janelas de madeira, além da pintura e da limpeza da cúpula de cobre, foi um avanço para preservação do patrimônio histórico e cultural do Brasil. A instituição, como o Museu Nacional, é a maior da América Latina e é referência nacional e internacional para a preservação do patrimônio bibliográfico e documental.
Arquivos e biblioteca também foram destruídos no incêndio do Museu Nacional, a Seção de Memória e Arquivo do Museu Nacional/UFRJ, o Centro de Documentação de Línguas Indígenas, e a Biblioteca Francisca Keller, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social.
Não estamos mais em tempos de queimar livros por decisão, como em Alexandria, Granada e Louvain, mas também não podemos deixar que sejam incendiados por indecisão e falta de ação preventiva.
Analisando a humanidade com um pensamento estritamente histórico, nós somos o que fomos. Um pouco de todos nós se perdeu nas chamas do incêndio do Museu Nacional, perdas irreparáveis.
Como conhecer a nós mesmos sem as fontes arqueológicas, documentais e bibliográficas?
Todo cuidado é pouco!
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