segunda-feira, 20 de março de 2017

“PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES”...

Por Juliana Lima

Certo dia, estava eu acessando a internet e olhando a minha timeline no Facebook quando me deparei com uma acalorada discussão sobre normalização. Era um comentário de um pesquisador renomado e conhecido, falava sobre alguns aspectos das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas e apontava algumas ‘falhas’ concernentes à citação e referência. Pois bem, não entrarei em detalhes sobre o discurso do pesquisador, entretanto, o que posso afirmar é que existem muitos pontos a serem considerados em uma situação em que alguém diminui ou torna insignificante o valor da normalização, seja das normas da ABNT ou qualquer outra. Para começar, chega a ser preocupante o fato de desqualificar uma norma em favorecimento de outras, tendo em vista que toda e qualquer norma visa a um mesmo objetivo: padronização. Acima de tudo, a qualidade.

Confesso que em parte concordei com os comentários no que se refere ao fato de as normas de informação e documentação da ABNT serem mais voltadas para a forma estética e apresentação do que com o conteúdo e redação científica, diferente de outras normas, como Vancouver e APA, as quais preocupam-se mais com as características de sua própria área, redação científica, ética em pesquisa, autoria e outras questões. Contudo, eis aí uma das diferenças que fazem mais sentido para nós bibliotecários do que para as outras pessoas: as normas da ABNT estabelecem um padrão estético de documento que ajuda, por exemplo, a estabelecer o local onde deve aparecer a numeração das páginas. Se assim não fosse, todo mundo escolheria colocar a numeração onde bem quisesse, achasse mais bonito, ou, centralizada na parte inferior da folha para ficar igual aos livros. 

No conteúdo e em redação científica a ABNT não vai opinar, afinal, cada área tem a sua característica, e, é aí que também mora o perigo e vence o campeonato de queixas contra as normas da ABNT! A situação é tão cômica, senão, trágica, que há revista na área de Biblioteconomia que publica artigo de pesquisador que não é Bibliotecário, não é nem de perto da nossa área, e, defende veementemente a ‘inutilidade’ das normas da ABNT... É dureza!

Contudo, a ciência exige padrões. Para publicar em uma revista é necessário seguir as normas, sejam elas ABNT ou qualquer outra, e as pessoas seguem porque querem publicar, porque é o modelo estabelecido. Algumas áreas possuem o seu próprio padrão conforme as suas necessidades e particularidades, como a Medicina e Psicologia. Assim como há um certo estranhamento de pessoas de outras áreas com as normas de Vancouver (área de saúde) e que preferem a ABNT - Pasmem! – ou o contrário. Mas, eu só vejo as pessoas criticarem a ABNT. Eu me pergunto: Por quê? 

Outro ponto importante que devemos considerar é o fato de a Academia cobrar de maneira insistente o cumprimento dessas regras em detrimento do conteúdo, redação científica e contribuição do trabalho para a área, ou seja, o que realmente importa. Tudo bem que a entrega do trabalho normalizado é importante, mas, prender-se apenas a esse aspecto e esquecer-se de dar sugestões referentes ao tema apresentado é vergonhoso. 

Então, trata-se muito mais de bom senso e consenso. Sobre elaborar citações e referências, para que sofrer se há gerenciadores de referências que podem auxiliar na tarefa? Contudo, ainda considero importante conhecer nem que seja o mínimo, o básico das normas exigidas pela revista que se deseja submeter um artigo, afinal, um erro aqui ou ali pode ocorrer mesmo que se utilizem ferramentas de construção e gerenciamento de referências. Mais importante do que ensinar como se faz uma citação e referência é explicar o que cada uma é, porque referenciar e citar, qual a função da autoria, características da redação científica, enfim, de forma mais lógica e científica que faça todo o sentido para qualquer área, este, é o grande desafio do bibliotecário de referência em seus treinamentos de normalização: ir além da norma e mostrar a sua aplicabilidade, os porquês, os prós e contras. Nenhuma norma é perfeita mesmo. É rir junto com os alunos quando perguntam se o resumo tem o recuo do parágrafo ou não tem, ou, quando perguntam se os dois pontos tem negrito ou não só para testar se a bibliotecária sabe. Eu sempre digo: vamos à explicação que faz sentido e depois vamos olhar o texto da norma. Vamos interpretar e usar o bom senso.

E para quem deseja contribuir com as normas da ABNT, eu sempre indico que se cadastrem no site da ABNT para dar a sua opinião, sugestão ou crítica e acompanhar a consulta nacional das normas. Para quem critica também é a oportunidade de cadastrar-se e enviar o seu feedback. Consulte os slides para saber como fazer seu cadastro: <https://goo.gl/D1GrKd>.

E pra não dizer que não falei das flores, o nome da rosa (Normas), tal como Geraldo Vandré, “Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Essa música é um protesto, e, uma chamada à militância pela libertação da ditadura. Traduzindo e trazendo para a nossa área (Biblioteconomia): Vamos estudar normalização com seriedade? Vamos repensar nossas práticas e treinamentos em normalização? É necessário sugerir mudanças? Então, não tratemos como uma coisa chata, detalhista ou pequena, afinal, cada coisa tem a sua importância no mundo. 

Discussões como essa são salutares e devem ocorrer, afinal, para fazer ciência as pessoas também dialogam, discutem, chegam ou não a um consenso. Observação: Não estou defendendo nenhuma norma, apenas estou emitindo minha opinião de forma simples e holística. Abraços a todos!

* Para quem não sabe, a expressão “O nome da rosa”, título do livro de Umberto Eco, era usada na Idade Média para significar o infinito poder das palavras.
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#otextoénosso #normalização

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